segunda-feira, 9 de abril de 2012

E-MAIL DE UM POLICIAL DO COE, CASO JONATHAN

O COE e o adolescente Jonathan Carvalho
Provavelmente, assim que essa minha manifestação transpuser as dependências do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar de Sergipe (PMSE), não mais farei parte deste grupo da elite policial militar. É certo que isso aconteça, caso eu seja identificado pelas ideias que fluirão a seguir, embora eu ache que essa tarefa seja de relativa dificuldade para o comando do COE. O que estou experimentando é sentimento comum entre muitos (ou todos) dos policiais que compõem essa fração policial. Pelo menos os militares que tenho conversado após esse triste acontecido sobre o desaparecimento e provável assassinato do adolescente Jonathan Carvalho.
Acalmem-se, a minha saída do COE poderá ocorrer, mas não porque os seus Oficiais tenham o traço de perseguidores no seu fazer administrativo e disciplinar, muito pelo contrário; mas porque todos os que compõem ou que já compuseram o COE sempre estiveram, voluntariamente, submetidos à autoridade discursiva dos seus nortes doutrinários e comportamentais: ser um “herói (e não bandido) anônimo” é um desses apontamentos que definem a permanência de um policial em suas fileiras. Ou seja, o duro curso que enfrentamos é a fase menos complexa para que se possa envergar o uniforme preto. Aliás, não vestimos apenas o uniforme diferente dos demais milicianos, estamos inseridos num denso idealismo, calçado nos modernos valores éticos; que são cultuados no moderno Estado Democrático de Direito brasileiro, aquele que abraça o garantismo penal, tendência do nosso Direito que não nos está sendo “garantida”, se fosse da vontade de alguns.
Até aí nenhuma novidade, já que todas as instituições policiais pelo Brasil também estão submetidas as esses comandos. No entanto, o perfil dos seres com quem lidamos e tentamos impor e garantir que a Lei seja concretizada é sempre diferenciado do restante da criminalidade comum: há, quase sempre, uma previsão de que haja a reação violenta por parte dos que se contrapõem às normas sociais. Certamente, isso explica os índices diferenciados de ocorrências nas quais se utiliza as últimas gradações do uso da força policial por parte das tropas especiais, não só aqui, mas por todo o mundo.
Ressalto que nenhum policial do COE é melhor em absolutamente nada em relação aos demais policiais militares e civis. A sua missão essencial é que é diferenciada. Afinal, todos os seus componentes são oriundos da tropa dita convencional. Em outras palavras, a tropa especial não passa de um grupo policial com treinamentos e armas também especiais, para dar respostas em situações que transcendem à normalidade e capacidade operacional do restante da tropa. A sua especialidade se dá justamente por causa das respostas especiais que lhe são socialmente confiadas, nada mais.
A Oração dos Operações Especiais inicia-se com o clamor à divindade sagrada: “Ó poderoso Deus [...]”. Dito isso, revelo aqui o meu motivo mais íntimo de ter procurado servir nesse grupamento. Servir a um grupo que, todos os dias, ao iniciar as suas atividades, entoa uma oração que solicita providências e orientação nas suas ações à divindade responsável pela criação deste sistema de coisas. Isso é algo que sempre me manteve firme no meu propósito de servir aqui até a minha merecida aposentadoria, ou mesmo, até que o último suspiro me abandone, desde que seja desígnio do Senhor. Entretanto, reconheço-me agora como humano demais, admitindo não mais suportar as injustiças irradiadas diariamente por uma parte da imprensa sergipana. A minha família já sucumbiu há mais tempo do que eu, ainda estou de pé, não sei como. Eis aqui a explicação de porque entendo que não mais farei parte do COE: estou dissonante do restante do grupo, não mais me sinto igual aos demais.
Honestamente, não haverá ressentimentos caso isso aconteça, mesmo porque é provável que eu me voluntarie para sair e, assim, ceder lugar para outro militar mais fortalecido, psicologicamente. A defesa social precisa de alguém mais forte nessa espinhosa e específica missão do COE. Não é “pedir pra sair” como um covarde, isso não é ficção, é muito mais sério.
Lembro-me que foi aqui também que aprendi que a ideia de ter que ser forte para se fazer parte do COE é bastante distorcida por aí a fora, descobri e aprendi o seu real significado: grosso modo, vivemos para os fracos. Mesmo alguns componentes da tropa da PMSE guardam certa antipatia por causa dessa distorção perceptiva. Como disse, aprendi que temos que ser fortes para servir não somente aos fracos, mas aos fragilizados. Talvez, isso explique o motivo de a grande maioria dos seus componentes serem oriundos da confissão cristã, inclusive dos seus atuais Oficiais. Porque o mundo cristão é assentado na servidão dos seres humanos mais desvalidos e fragilizados no seu conjunto social: essa é a principal máxima do evangelho na minha percepção.
Como lido, não sou tão anônimo assim, já se sabe que sou um dos militares evangélicos desta Companhia; e também ficou claro que não sirvo a dois (s)Senhores, em hipótese nenhuma. O leitor já percebeu que abri as portas e desmistifiquei, ou melhor, humanizei os tais heróis anônimos. Agora, falarei de alguns dos traços personalísticos do seu atual comandante.
Poucos sabem do dilema por que passa o Capitão Henrique atualmente. O seu único filho tem duas deformações genéticas, tão raras que os médicos especialistas, segundo ele, afirmaram que no caso do seu filho é como se dois raios atingissem um mesmo ser, ao mesmo tempo. A boa notícia é que o garoto, milagrosamente e a duros custos econômicos, está sobrevivendo a esta batalha, lutada minuto a minuto, até o fim da existência sofrida do seu pequeno ser. Eu, que já o conhecia como um homem extremamente espiritualizado e temente a Deus, frequentador de templos evangélicos em Aracaju, agora o enxergo com mais fervor ainda na sua missão de servidão ao Senhor. Um homem que não é apenas grato a Deus, mas à humanidade, pelos avanços da ciência ou pela solidariedade humana que não o abandonou em momento algum; homem grato pela sucessão de milagres que não deixaram que a vida da sua criança fosse abreviada. São ideias e palavras do próprio Oficial quando se dirige à sua tropa. Infelizmente, essas vitórias não podem ser comemoradas porque a batalha não terá fim, dada à atual impossibilidade de cura da sua criança. Sinceramente, não sei como ele aceitou a árdua missão de novamente comandar o COE, que requer total dedicação, tempo integral mesmo. Curiosamente, a sua missão tem sido desempenhada com altivez. Isso é sobre-humano e difícil de entender.
Situando o COE no seu espaço social, ele está sediado nas instalações do COPE, que por sua vez sedia vários segmentos especializados da Polícia Civil sergipana. E aqui faço outra revelação, é impressionante a quantidade de homens e mulheres, nos mais variados níveis funcionais, que são forjados na ética e religião cristã e espírita, além dos próprios regulamentos de conduta das suas Instituições. Não se trata de um prédio que congrega a elite operacional das polícias estaduais, portanto.
Faço questão de contextualizar o ambiente e as pessoas que decidiram pela deflagração da operação que culminou nas mortes (alguns setores da imprensa prefeririam usar o termo “assassinatos”) de três indivíduos que optaram por não atender à ordem de parada de dois Grupamentos Policiais (GGTT) do COE. Porque a partir de então, as acusações criminais atribuídas aos seus agentes, regadas a muita emoção e/ou irresponsabilidade cível e criminal; atribuídas por alguns “familiares” dos envolvidos e por alguns (de)formadores da opinião pública, são de fazer sucumbir qualquer doutrina que nos crave a ideia de que não devamos responder, nos moldes dos nossos dispositivos sociais, a tantas injustiças contra um grupo (e suas famílias) que tanto preza pela legalidade e ética profissional.
Indico duas vozes para exemplificar a balbúrdia caluniosa de que falo: o senhor Araújo e o radialista e suplente de deputado estadual, Gilmar Carvalho. Esses responsabilizam e acusam, sistematicamente, ao conjunto da segurança pública de Sergipe pelo desaparecimento e morte do adolescente Jonathan Carvalho, que supostamente teria embarcado no veículo que fora abordado no interior sergipano pelo COE; mas que não era seu ocupante naquele momento fatídico, definitivamente.
Preferi não citar os outros parentes, porque entendo que independente da forma de vida escolhida por aqueles que ali tombaram, ninguém quer ver a morte dos seus entes de forma violenta. Já quanto aos senhores Araújo e Gilmar Carvalho, não posso dizer o mesmo.
O pai, padrasto e ex-padrasto, senhor Araújo (Carvalho?)
O que vou afirmar aqui se baseia nas informações trazidas por varias pessoas que conhecem o senhor Araújo, além das diversas leituras que fiz na mídia sergipana, as quais já não faço mais em nome da minha saúde psicológica. Infelizmente, a minha família tem sofrido bem mais do que eu, porque não adotou a minha postura.
Nos primeiros dias depois da troca de tiros, li e ouvi matérias nas quais o senhor Araújo afirmava que o seu filho estaria naquele carro abordado. Nós, do COE, tínhamos e temos certeza de que não. Mas o que me chamava à atenção desde então era a incoerência do que dizia ele em tão poucas construções de linguagem. Primeiro, ele afirmou que o menor teria embarcado com o grupo sem o conhecimento dos seus pais. Logo me veio uma pergunta: se ele teria partido “escondido” com o grupo, como é que, instantaneamente, assim que souberam do fato, souberam afirmar com segurança que o seu filho ali estaria? Não o quero desqualificar por capricho, mas é impossível que um homem de média inteligência não faça esse questionamento. Pronto, aí já se desenhava a primeira afirmação do seu “pai”: apesar de o mesmo ter saído escondido dos pais, eles “sabiam” que o jovem estaria em companhia daquela quadrilha. Afirmação um tanto quanto contradita.
Num segundo momento, soube-se que o senhor Araújo já não era o seu pai biológico, mas o seu “padrasto”, e que o menor teria embarcado naquele “bonde do mal” (essas palavras são minhas) porque o seu primo teria “contas” pra acertar com o irmão do policial que fora extinto pelo grupo criminoso, mas que o seu filho não passava de um “laranja” naquela trama covarde. A verdade do senhor Araújo, em poucos dias, já se afigurava flutuante. Um pai que não era pai e uma viagem escondida, não tão escondida assim, pois até os motivos (a morte de mais um inocente) foram surgindo, na versão do agora “padrasto”de Jonathan Carvalho. Nesse contexto, uma coisa me deixou muito indignado: porque o exemplar padrasto de Jonathan Carvalho não teria avisado à família do falecido Elder Freitas sobre o perigo e a intenção de componentes daquela quadrilha também executar o seu irmão? Além do mais, qual a culpa que o mesmo teria por já ter perdido o seu irmão, servir de exemplo de que “com eles não se mexe?” Há alguma providência ou clamor, por parte da polícia, OAB, imprensa, ONGs, etc., no sentido de que medidas protetivas sejam desencadeadas para garantir que remanescentes dessa quadrilha não o ataquem?
Num terceiro momento, o tal padrasto já não o é mais. Soube-se então que o senhor Araújo é ex-padrasto e que, nas suas palavras, o adolescente Jonathan Carvalho já não teria saído mais com a quadrilha para promover a morte de inocentes, mas para jogar vídeo game na casa de uma tia. Pensei comigo que esse “jogo de vídeo game” não seria tão virtual assim. Quiçá o “jogo” seria daqueles nos quais os marginais executam policiais covardemente e que são proibidos para menores de dezoito anos no Brasil, inclusive. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, mas não dá para esquecer que a morte do policial foi real, diante de versões insustentáveis como a desse senhor que aparentemente já esgotou os seus quinze minutos de fama. Mas não quero incorrer na leviandade dos que critico aqui. Embora as informações que nos chegam me inclinem a acreditar que haja certa promiscuidade entre o senhor Araújo e a célula criminosa que teria levado Elder para o plano espiritual, sem mais volta para o seio dos seus familiares.
Nos momentos seguintes, o senhor Araújo, que se dizia desesperado para encontrar o corpo de Jonathan Carvalho, após o sucesso nas incessantes buscas promovidas pelo aparato de segurança pública sergipano, agora já levantava dúvidas sobre as circunstâncias da localização do corpo do jovem. Outra pergunta me surgiu: finalmente, não era isso que ele queria? Será que para o senhor Araújo há uma teoria conspirativa para tudo? Pelo jeito a resposta é sim, na visão dele, tudo enseja dúvidas sobre a lisura das ações da SSP-SE. Para o senhor Araújo, toda a conjuntura e agentes públicos envolvidos nesse episódio já são CULPADOS pelo triste fim do jovem Jonathan Carvalho, se é que aquele corpo encontrado seja realmente o seu.
Em outra das suas acusações, acusa-se a polícia de não atirar no veículo que era ocupado pelos três. Ora, quem disse que no momento que eles foram atingidos que estariam dentro do carro? Será que se queria que os policais, na ânsia de não serem desacreditados, mascarassem a própria verdade, numa espécie de caricaturização da realidade? Esqueçam-se disso, a sociedade sergipana não tem uma polícia contadora de estórias.
Já nos momentos que se ultimam, e admito que não vi nem ouvi da imprensa, mas dos meus abalados parentes, que o senhor Araújo, mesmo antes de sair qualquer parecer final dos peritos da Polícia Técnica sergipana, com um sorriso de canto de boca, já “afirma” que a perícia é incompetente para realizar os seus atos de ofício, afirmando que “convocará” a Polícia Federal para intervir no caso. Ninguém e nada é confiável nas versões e percepções deste senhor, todos serão desacreditados por ele, bastando para isso que desacordem com as suas hipóteses borbulhantes. A sua verdade é irretocável, intangível.
Sem querer parecer irônico, se lhe serve de conforto, senhor Araújo, concordo que até o FBI e a CIA, de acordo com os seus sobrenaturais poderes discricionários e de convocação, deveriam desenvolver fatigantes investigações acerca do fato. A verdade é sempre a verdade, ela também nos interessa. Infelizmente, como sabemos que as suas terríveis acusações não são consonantes com os fatos, logo em seguida esses órgãos serão desacreditados pelo senhor. Só espero que o senhor não convoque forças extraterrenas para validarem a sua leitura sobre o fato num continuum infindável, afinal, precisamos acreditar e nos firmar em algo. A sua imponderável magnitude racional, comparada com a dos outros mortais, impede que qualquer verdade se contraponha à sua.
Por enquanto, aconselho que o senhor volte à sua aparente condição humana, que saia da sua casa em Nossa Senhora do Socorro, e, chegando a São Cristóvão, pelo menos pergunte e decore o nome da Escola que Jonathan Carvalho estudava, assim como as suas notas e frequência escolar. Sabe por quê? Porque o senhor nem sequer tinha contato com o moral e intelectualmente abandonado Jonathan Carvalho. Eis aí um pouco da minha revolta com a postura dos militares do COE. Os colegas me impediram de ligar e fazer esse questionamento ao vivo. E o senhor sabe que não saberia me responder. De forma que aconselho que procure, urgentemente, se inteirar desses detalhes se quiser ter um mínimo de confiabilidade dos seus “ouvintes” a partir de agora. Eu resisti, mas outros podem fazer este questionamento, mesmo porque foi assim que essas informações me chegaram. Populares, revoltados com o seu papel teatral muito mal desempenhado, procuraram vários policiais, militares e civis, para falar acerca da verdadeira distância que havia entre o senhor e esse adolescente. Resolva os seus problemas com o álcool que o seu corpo agradecerá. Já problemas de ordem moral não são resolvidos com certas abstinências. Eu não acredito na sua recuperação moral senão pela aceitação e prática da fé Cristã, aquela que condena, com o rigor bíblico, a desfaçatez e a mentira.
Deixo claro que não quero denegrir a imagem do garoto Jonathan Carvalho. Ele é o último dos culpados, se não for a maior vítima nessa enorme teia de circunstâncias que o condenaram ao seu provável desaparecimento biológico. Muito embora entendo que muitas das suas escolhas foram da sua vontade “desassistida”. A inconsequência dos seus atos e decisões, provavelmente, impediu que implicações tão drásticas fossem vislumbradas no seu futuro. A sua pouca idade e provável desassistência familiar devem responder sobre os descaminhos morais percorridos pelo jovem. Logicamente, também entendo que o Estado-providência falhou em algum momento. O que não se pode, nesse caso, é responsabilizar, irresponsavelmente, a atuação de policiais que nunca puseram os olhos nesse adolescente.
Enfim, senhor Araújo, concordo, em parte, com um comentário que li na WEB há alguns dias. Responsabilizo o desaparecimento da família (a verdadeira) de Jonathan Carvalho pelo seu próprio desaparecimento biológico e moral. Digo em parte, porque o Estado tem a sua parcela de culpabilidade nesse processo, mas não na sua face representada pelas polícias Civil e Militar de Sergipe, isso não.
O ex-Deputado, suplente de Deputado, Radialista e Bacharel em Direito, Gilmar Carvalho
Decepção, do Latim deceptio, “engano, dolo, empulhação”. Dito isso, não vou mais me estender nas explicações sobre o porquê de ter transcrito isso, imagino que o homem mais simples saberá dos meus motivos no primeiro contato com o texto.
Com Gilmar Carvalho tenho uma história (não ele comigo). Desde quando conquistei o direito ao voto que dei suporte ao imenso prestígio social e político que este senhor tem na atualidade no cenário sergipano (na política, nem tanto, atualmente). A sua decadência nas urnas também foi acompanhada pela desconstrução das ideias e juizos que eu fazia a seu respeito. Antes, eu o referenciava como um dos mais brilhantes políticos do meu tempo. Discutia e o defendia de qualquer acusação que me fizessem sobre o seu caráter. Aos poucos, a minha condição de existir e de poder pensar me permitiu admitir que ele tinha sim a “possibilidade de errar”. Dando um rápido passo histórico, entendo, hoje, que este senhor tem a “possibilidade de acertar” algumas vezes. Vejo que ele não perdeu a sua brilhante capacidade retórica, no enanto, andou se afastando da razão e, consequentemte, dos dividendos eleitorais que nunca dantes o deixavam em segundo plano. Quando eu ouvia este senhor dizer que tinha uma denúncia bombástica para revelar, eu não tinha nem dúvida de que os envolvidos já poderiam apodrecer na cadeia, tal era o grau de confiança que me passava. Hoje, imagino quantas pessoas já passaram pelo vosso desafinado julgo. Quantos indivíduos e as suas famílias não amargaram o que estou amargando agora? Perdoa-o, Senhor, ele não deve saber o que faz. Repense as suas ações senhor suplente, há tempo, ainda.
Um Bacharel na Dogmática do Direito que, por conta de uma esbravejada sede de Justiça, simplesmente abre a boca e diz que “sabe que os três indivíduos mortos em Japoatã foram apanhados na grande Aracaju, e, nas suas palavras, “desovados” em Japoatã”. Quanta irresponsabilidade e inconsequência, radialista Gilmar Carvalho! Como provar uma sandice dessas, meu senhor? Será que o ônus da prova, no seu caso, se dá inversamente, temos que provar que não houve isso? É turva a água que mata a sua sede de Justiça. Respeite-nos e às nossas famílias e ponha em prática as suas vociferadas razão e espiritualidade, por favor. Clamo, humildemente, em nome dos meus familiares e amigos. Não somos bandidos anônimos, defendemos uma sociedade anonimamente: são coisas distintas. Não preciso de defesa, só que não nos ataquem injustamente. Apesar de estar me sentindo abandonado pela SSP e pelas associações, não posso pedir que nos defendam diante da campanha sistemática de acusações que se precipita sobre o COE e um Delegado de Polícia Civil. Eu também ficaria inseguro de advogar tal causa. Afinal, já cometi o erro de acreditar nas sandices desse político, já fui juiz de uma versão só.
No tribunal a que nos está submetendo, senhor Gilmar Carvalho, vossa senhoria, de forma unilateral, está desempenhando os papeis de Promotor, Juiz Criminal e de Juiz de Execuções Penais (nada de defesa). Tenho certeza que Michel Foucault adoraria fazer uma análise sobre a antecipação da tutela penal e da espetacularização (simbólica) das penas por parte do impiedoso e clarividente medievalista Gilmar Carvalho. Um simbólico e encolerizado linchamento moral, é isso que estais a promover. Ainda bem que o radialista não o é, na vida real, membro do parquet. Se assim o fosse, estou a pensar que a sua linha de ação seguiria a tendência de que “para os inocentes, pena mínima”. Quão pouco zelo pelo Direito, senhor Bacharel!
Tentei encontrar as explicações para o que Gilmar Carvalho tem dito e estou longe de entendê-lo na totalidade. Como explicar a contumaz sanha de acusar, indistintamente, às pessoas e instituições, por parte desse jovem homem de velhos hábitos? Isso é coragem? Não enxergo assim. Não estou identificado, ainda, mas nem por isso posso ser considerado um covarde, mesmo porque, nem de longe, estou apavorando-os e atribuindo-lhes fatos divorciados da realidade.
Na Teoria das Necessidades de Maslow, por exemplo, concluí que o que move o profissional de imprensa não são as suas necessidades primárias ou fisiológicas, mas as de cunho social. Como não tenho capital intelectual para avaliá-lo mais a fundo e com mais segurança, contentei-me em saber que quando algumas necessidades dos seres humanos não são satisfeitas, as reações de cada um são infinitamente variáveis, em conformidade com múltiplos aspectos que vão desde a personalidade individual até o ambiente social em que se está inserido. A frustração política, aliada ao seu estado psicológico emocional, poderá nos fornecer explicações para esse tipo de atitude. Mas isso tudo é mera divagação minha, abstrações não resolverão essas minhas inquietações de ordem espiritual e psicológica. As Justiças divina e terrena, sim. Falarei sobre a Justiça na conclusão desse meu desabafo.
Como se vê, apesar de evangelizador, sou homem politizado e, na medida do meu esforço, mediamente intelectualizado. Não sou um jagunço institucionalizado, como alguém escreveu em seus comentários nas matérias que li. Procuro não me contentar com conhecimentos religiosos, que são contemplativos apenas; sintonizo a minha vida religiosa com aspectos políticos, críticos e científicos. Concordo quando se afirma que além da Fé na Ciência, há de se haver Ciência na Fé. Hoje, não me sinto mais um herói anônimo (devo isso a vocês), mas também não sou um covarde anônimo.
Provavelmente, serei um dos policiais que os enfrentará nos tribunais sergipanos, sem nenhum destempero ou rancor e sem querer que isso pareça alguma ameaça. Se, com esse meu manifesto, eu não conseguir convencer a nenhum dos meus amigos a acionarem os dispositivos de Justiça para fazerem cessar, ou, no mínimo, que se tentem corrigir ou se reparar os males que resultaram dessas terríveis condutas caluniosas; travarei esse enfrentamento sozinho, nada de anonimato.
Todos os direitos serão buscados: direito de resposta na exata proporção dos agravos, indenizações e processos criminais. Todos os órgãos de imprensa que publicarem ou publicaram notícias tendenciosas serão submetidos ao crivo da Justiça, devidamente acionados por mim e pelos que me seguirem. A pirotecnia de notícias desconectadas da realidade (tendenciosas em alguns casos) é ensurdecedora. Notícias como: [...] “policiais responsáveis pela morte do menor estão sendo ouvidos, agora.” Por dever de justiça, afirmo que esse dito não é de responsabilidade do radialista Gilmar Carvalho. Salvo engano, é de responsabilidade de um atual detentor de mandado político, também radialista. Uma pena, já que tenho natural respeito por ele e por sua história. Nesses dias, li nas redes sociais algo que se encaixa perfeitamente nessas posturas: “os nossos juízes ganham tão bem, e vocês nos condenando gratuitamente”.
É impossível que de alguma forma esse último parágrafo seja entendido como uma ameaça, mesmo porque esses dois homens, Araújo e Gilmar, são dotados de notável inteligência. Impossível que não previssem que homens como nós, conformados com os dispositivos sociais em voga, não reagíssemos dentro desses princípios e orientações previstas para a solução desse tipo de contenda social.
Vou concluir o meu desabafo, senhor Gilmar Carvalho, lembrando a forma como fazes a abertura do seu programa: “No ar, a verdade”. Como, nesse caso, eu a conheço, sinto que a verdade não vos interesse. Porque quando ela, após as investigações concluídas, for descortinada e cristalizada para todos vocês que lançaram estas contundentes e desconcertantes acusações, restará para vossa senhoria a triste desonra. O exato monstro que tentam nos travestir é o que se amoldará bem nas suas consciências.
É Gilmar Carvalho, a verdade está no ar mesmo, bem longe do alcance dos seus infrutíferos saltos e anseios pessoais e políticos. O rádio é trampolim político, mas não o ajudará a alcançar a verdade dos fatos, nesse caso. E é essa a verdade que o libertará. Mesmo assim, desejo que Deus esteja contigo e com a sua família; que a livre do que esta passando a minha agora; que Ele o coloque nos seus braços e providencie liberdade para sua aprisionada consciência. A minha família agradecerá o seu respeito, na exata proporção do que tenho pelos vossos congêneres.
Assina: Um herói anônimo, ainda.

TENENTE DO BATALHÃO DE CHOQUE É SELECIONADO PARA A MISSÃO DA ONU NO HAITI

A Polícia Militar sergipana enviará neste mês de abril um representante da corporação para a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), que tem como objetivos prioritários estabilizar o Haiti, pacificar e desarmar grupos guerrilheiros e rebeldes da região; promover eleições livres e informadas; bem como formar o desenvolvimento institucional e econômico do referido país. Para esta missão, o foco será a reconstrução de rodovias e hospitais haitianos.
 
Para auxiliar as forças policiais no Haiti, a Minustah realiza uma rigorosa seleção. No caso de Sergipe, a Polícia Militar enviou três oficiais da instituição para possível recrutamento. Como resultado, o tenente Moisés Moraes de Souza, lotado no Batalhão de Choque, foi selecionado e embarcará rumo ao Haiti nos próximos dias. A missão terá a duração de um ano.


 
O ganho de experiência profissional em uma Missão deste porte é incalculável, tanto para mim como para a corporação que represento. Terei a possibilidade de interagir com policiais que trabalham em diversos países. Por outro lado, também nos possibilitará a ajuda humanitária aos irmãos haitianos que passam por um processo de transição, após o período de ditadura”, destacou o tenente Moraes.

 
Todos os profissionais de Segurança Pública que almejam atuar em Missões de Paz passam por um rigoroso processo de avaliação, composto por testes de idiomas, direção de viatura com tração 4x4, tiro e manutenção de armamentos, além de um estágio no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil, situado no Rio de Janeiro (RJ); e Ministério da Defesa, através do Exército Brasileiro, nas cidades de Brasília (DF) e Recife (PE).

Sobre MINUSTAH :
A sigla Minustah deriva do francês ‘Mission des Nations Unies pour la stabilisation en Haïti’. É uma missão de paz criada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 30 de abril de 2004, com o intuito de restaurar a ordem no Haiti, após um período de insurgência e deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide. Desde o dia 27 de março deste ano, o comandante da Minustah é o general do Exército Brasileiro Fernando Rodrigues Goulard.

Outras missões

A PM de Sergipe tem tradição no auxílio a missões realizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), com importantes participações em Moçambique (1994), Timor Leste (2003 e 2004) e agora no Haiti (2012).